quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Passarinhos

Manoel de Barros entre tantas criações literárias poéticas, nos deu conhecer "Passarinhos sei de cor"
Mergulhamos nesse mundo de avezinhas com almas sutis, capazes de misturar os sentimentos humano, fazendo  gente virar pássaro na aventura de conhecer seus voos. Ensaiamos  versos inspirados nos passarinhos que viajam nas poesias.
Misturamos técnicas de desenho e pintura com a tecnologia do software paint numa releitura da criação.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Van Gogh, eu e eles: Os girassóis.

Estavam lá a espera de inspiração
Em algum lugar no museu de Van Gogh
Sobre a toalha de linho da anfitriã
A espera do amor impossível
Naquela fria e longínqua manhã
enquanto eu...perdida nas trilhas da inspiração
Na manhã que aquecia a dor da razão
Quando então captada por doce emoção
Girassóis multicores em ocres dourados
Povoaram-me a mente pulsando o coração. 
Rodeei com o olhar suas linhas seus elos 
Tateei o tecido e os fios no acervo de cores
Evoquei a Van Gogh seu dom seus amores
Registrados na tela em girassóis  amarelos
Transformei o tecido de linho claro
Aquarela, grafite, agulhas, riscado
Fios coloridos,  mágico bailado
Ressurgem eles: girassóis eternizados
Vinculam-me a ele Van Gogh consagrado
E seus girassóis no meu novo bordado.

Saudade em vigília

Está chegando o aniversário da partida
Preparo a alma que revive a despedida
Tracejo linhas que demarcam nossas vidas
Escrevo um verso e suavizo a dor  sentida
poucas palavras
roucas palavras
ocas palavras
garganta atatada
nó sem gravata
brilho sem festa
manhã gelada
tarde esperada
noite sem nada
E eu com saudades das mãos e do olhar esverdeado e brilhante de meu Pai.-
manhã gelada...
terapias sem lógica...
frio sem propósito...
dor sem relógio ...
transfusão sem saída
tristeza sem medida
saudade espremida
olhar afogado e sem prisma
saudade doída...
Doida saudade em vigília
Constante vigília...

domingo, 11 de julho de 2010

BORDADERIA Século XXI




















Nos bastidores da Internet.
SuêGalli

O ato de bordar está presente em pleno contexto das tecnologias e do mundo virtual. Agulha, linha, riscos, cores, imaginação, fantasia e reprodução.

Ele é o mesmo.
É o bordado que ocupava aquelas mulheres de Atenas, que teciam longos bordados a espera de seus maridos: heróicos guerreiros de Atenas, daquelas que passavam uma vida bordando com fios dourados os brasões nas bandeiras de seus Reis, ou ainda daquelas que cingiam insígnias e louros nas capas de veludo das espadas do guerreiro.
O bordar em tempos de cólera,
De guerra,
De solidão,
De miséria e de holocausto,
De festa e comemoração.
O bordar terapêutico é a companhia de mulheres habitantes de lugares desertos, distantes e sombrios, atravessa os séculos das culturas, lugares e suas geografias.
São milhares de kilômetros de tecidos e de fios percorrendo história fazendo protagonistas.
Conduz gestos delicados e atitudes de entrega ao trabalho povoando com arte os panos que servem para:
Proteger e enfeitar corpos e alcovas;
Mesas e altares;
Feridas e bandeiras de luta e de paz,
Corpos vendidos para o prazer:
Vestes de anjos das procissões dos homens.
O bordado no enxoval da noiva,
Na mortalha do prematuro defunto,
No altar dos milagres,
Nas toalhas de linho,
Nos lencinhos de cambraia entre os dedos unidos de desejo,
No banquete da elite, nobreza corrompida,
Nas peças íntimas da vítima torturada;
Na bandeira da pátria amada.


Século XXI mulheres no mundo se encontram no ato de bordar.


Criações coletivas, obras de arte,
mistura de técnicas,
de temas
e de desejos.
É o ato de bordar reconfigurado.
É o bordado nos bastidores da Internet.


Mulher
A figura feminina que mora em meus bordados, ensaia a liberdade, a entrega e sobretudo o desejo de ser leve e poder tocar com o pensamento, as coisas e realizar com coragem seus ideais.































Mulheres e seus vestidos,
Suas sombrinhas, sua espera...
Espera de sol, espera de chuva...
Espera da esperança
De não ter que ter saudade
Por não ter o que esperar



















Mulheres que agregam o belo da natureza,
do céu azul
da mangueira a brotar folhas e frutos...



















Mulheres que clamam pela paz,
pelo amor,
pela felicidade
e se acreditam capazes de falar com os santos
e conseguir com eles:
parcerias,
cumplicidade,
felicidade...





































Mulheres que vivem como árvóres na mata,
meio fadas,
meio bruxas,
meio santas


Mulheres encantadas que vivem no fundo do mar...
que resgatam em suas redes mágicas
a fragilidade da vida...





Mulheres que procuram o caminho escondido da felicidade
Desbravadoras de sentimentos



















Se embrenham pela vida
enlouquecidas pela certeza que buscam
Pelas crenças que carregam
Pelo desejo que as faz pulsar



















Mulheres que sonham ser anjos
E que unidas pelas mãos que trabalham
Dançam a ciranda da fraternidade que só elas,
as mulheres, tão naturalmente realizam.


 
Mulheres que inventam homens mágicos
que plantam árvores de passarinhos
que carregam em seu cajado...
Homens que correspondem
ao seu mundo encantador de mulher...



















LEIA:


AUTORIA LITERÁRIA BORDADERIA SÉCULO XXI


JACI FERREIRA

Bordando um Sonho

Junho de 2006. Primeira oficina com Sávia Dumont, introdução a uma nova linguagem tecida entre conversas, memórias e afetos de infância. Nos paninhos das integrantes vi surgir árvores à beira de rio, bicicletas, meninas pulando corda e, no meu, aos poucos se delinearam os contornos de uma casinha, cercada de árvores, cores e pássaros.

Era apenas um alinhavo de sonho então.

























Meses depois, um reencontro com Sávia acordou o desejo de traçar novas linhas, já com uma nova perspectiva. Agora os traços poderiam partir de uma base real, meu terreno repleto de árvores existia e, aos poucos, as paredes de meu refúgio eram levantadas.



















Uma noite, durante a estadia dela, nos debruçamos sobre a tarefa: espalhamos vários tecidos sobre a mesa e, pedaço a pedaço, compusemos o desenho de meu oásis. Aos poucos, surgia diante de nossos olhos a representação de meus mais caros afetos.



















Um verde como base para bordar as flores que alimentam meu cotidiano,



Um azul de apoio para o vôo livre dos pássaros,



















O marrom como sustento às raízes das árvores que lançam seus galhos em direção ao céu.




















E de novo o verde, oferecendo guarida para Tatiana e Clara.
































Quase 2 anos de trabalho intermitente, durante os quais revesti meu sonho de cores e realidade, selecionando com carinho as lembranças que comporiam este recorte de minha história. A poesia de Manoel de Barros e outros autores acompanhou o percurso, musicando a escolha dos fios, das texturas, das cores.






E assim, ficou registrado este pedaço de chão, por onde, se o destino assim quiser, pisarão os passos de meus descendentes. Cientes da importância que ele tem para mim, novas sementes serão plantadas, outros brotos surgirão, frutas e hortaliças serão colhidas em memória daquela que um dia sonhou.

http://www.matizesbordadosdumont.com/
http://retalhosetcetal.blogspot.com/